O valor dos sentimentos
Há dias o pequeno príncipe T apanhou o hábito de querer dar-me um presente. Sempre que chegávamos a uma superfície comercial, arrastava-me e pegava em tudo...desde o mais óbvio até ao mais irrisório. Queria apenas que fosse um mimo. Tentava fazer-lhe ver que não precisava de nada, que ele tinha muito para me dar, cheguei até ao ponto de lhe voltar a explicar, dentro do possível, que se gastasse aquelas moedas comigo, não teria para comprar algo que quisesse muito.
Comecei por tentar arranjar ideias para desviar esta atenção das coisas físicas, dos objectos, dos presentes reais...comecei por pensar como seria mais benéfico para ambos que ele soubesse que haverá sempre algo mais especial do que o presente mais caro que ele me poderá um dia dar...comecei por interiorizar que tinha de haver uma máxima que o marcasse e que lhe demonstrasse que eu ficava mesmo feliz com aquela "prenda" que ele me iria dar.
Comecei pelas ideias dos seus trabalhinhos próprios, os desenhos, as pinturas, as flores que apanha na rua e leva para casa...enfim...nada... mais voltas à cabeça e certo dia consegui...e pode até parecer cliché...mas as crianças são assim, perfeitas e genuínas. Fui-lhe dizendo que os abracinhos dele, e os seus beijinhos eram o melhor presente que ele me podia dar. E começou a pegar moda. Não é que tivesse falta destas demonstrações de carinho, porque deste lado temos, e desculpem a falta de modéstia, um miúdo bastante carinhoso e afectuoso, mas senti que ele se sentia quase na obrigação de retribuir com algo "físico" sempre que eu lhe comprava uma lembrança. E achei que não deveria ir por aí, achei que deveria retirar uma lição desta situação, e tentei fazer-lhe ver que há coisas que não custam dinheiro e deixam sempre sorrisos abertos e corações cheios.
Certo dia, comecei a ouvi-lo chamar-me e dizer que tinha uma surpresa para mim. Julguei que vinha por lá algo que ele tivesse "desencantado do fundo do cesto dos brinquedos" ou até uma lembrança que tivesse comprado com o papá. Pois não...quando me aproximei dele vinha de braços abertos...foi-se chegando, abraçou-me e deu-me daqueles beijinhos "repenicados" que nós mães tanto gostamos. Depois a frase final "toma esta é a tua prenda mamã, aquela que tu mais gostas certo mamã?". A partir daquele dia, e quase todos os dias, em algum momento se lembra "daquela" prenda e volta a chamar-me, e volta a abraçar-me e volta a "beijocar-me"...e eu repito sempre a mesma frase " são sempre as tuas melhores prendas príncipe lindo, a mamã adora estas prendas especiais".
Desta penso que já me safei com nota positiva. Ensinar-lhe que nem tudo tem valor material custa quando ele pergunta o preço de tudo e temos de lhe dizer que quase tudo custa dinheiro...quase...porque o amor e o carinho genuínos, esses ainda são gratuitos e valem mais que muitas moedas juntas.
Venha de lá a próxima lição...
* Créditos da Imagem: António Lucas