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Ele, o microfone e a mamã

"Radicalismos" de uma mãe galinha, rabiscos e cantorias do pequeno príncipe T e vida, muita vida para vos mostrar. No nosso T3 vivemos e sorrimos muito.

Ele, o microfone e a mamã

Porque a MENTE também precisa de médico

Liliana Silva, 23.09.21

 

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Tenho um percurso de vida de muitas e longas curvas. Curvas apertadas pelo tempo e pela intensidade com que fui apanhada.

Pauto a minha existência por dar àqueles que amo a verdadeira razão desta vida...o amor verdadeiro. Tenho pelos meus um amor desmedido que me faz ter medo de os perder e sobretudo medo que sofram. Aprendi que não tenho grande poder sobre nada, mas que tenho uma arma bem resistente a tudo o que no fim poderá acontecer...dar tudo de mim para os amar e proporcionar dias inesqueciveis...assim quando partimos sabemos que não ficou nada por fazer e muito menos por dizer. E isso conforta-nos, acreditem que se no fim, tivermos de baixar os braços e precisarmos de resignação, o que fica é a satisfação de termos aproveitado à brava. Fica a saudade! Mas a saudade de momentos bons, rimos com as lembranças e se houver lágrimas será porque o que nos falta foi muito bom num passado bem aproveitado. 

Mas tudo isto que vos falo, traz, por vezes consequeências que nos esgotam sem nos apercebermos. A luta diária, o achar que podemos tudo, o pensar que chegamos a todos e que fica sempre tudo bem, deixa marcas para uma vida. As minhas marcas chegaram à bem pouco tempo. A vida mostrou-me por A+B que estava completamente descarregada. Naquele dia fiz um reset ao meu corpo e à minha mente...e agradeço hoje, ter sido apenas um reset e não uma avaria completa, o que significa que a vida me deu uma nova oportunidade.

Aquilo que achava ser um AVC foi descartado, aquilo que se julgava depois ser um AIT foi igualmente descartado e o que restou no final?? Os tão falados ataques de pânico e ansiedade! Os tão falados, aqueles que eu sempre confortei nos outros estava agora do meu lado e eu não soube lidar com eles. Não soube e não sei ainda...

Sei que a seu tempo as coisas podem ter controle, mas também soube que não o iria conseguir sem ajuda especializada. Sou acompanhada por um psiquiatra desde essa altura e agora mais recentemente por uma psicóloga, devido à perda do meu feijão pequenino, devido à perda do meu Tomás. Tenho ajuda médica qualificada para conseguir continuar a caminhar. Tomo medicação diária para ajudar o meu cérebro e o meu corpo a encontrar o equilibrio que preciso para ser feliz. Faço terapia para conseguir chegar ao meu EU interior e transmitir-lhe a paz que necessita para se manter fiel a mim.

Se tenho vergonha de falar ou contar isto? NUNCA!! Cresci num ambiente onde se falava de psiquiatras como se fala num neurologista, num reumatologista ou numa terapeuta. Sou muito bem resolvida e fui eu que procurei ajuda quando tudo o resto, e falo fisicamente, foi descartado. Sou eu que marco as minhas consultas, peço a minha medicação e faço questão de seguir o tratamento para me sentir bem.

Não...não sou maluca!! Tenho um problema...igual a um braço partido ou umas cataratas nos olhos. Tenho um problema que precisa de acompanhamento e cá ando eu a lutar para ficar melhor.

Julgamos sempre que somos os maiores, os melhores, que nada nos acontece, que conseguimos ultrapassar, que não podemos chorar, que não devemos explodir, que a sociedade vai-nos julgar por sairmos do protótipo de "pessoa normal"!! 

Meus amigos ninguém é NORMAL!!! Atrever-me-ia até a dizer que somos todos portadores de deficiências. Uns mais simples do que outros, claro está, mas todos estamos no mesmo barco. Eu que achava conseguir ultrapassar tudo, verguei.

E hoje, hoje que voltam os dias cinzentos, os dias de chuva, os dias em que inadvertidamente deixamos de trazer o riso nos lábios porque corremos para fugir do mau tempo lá fora, hoje deixo-vos com a minha experiência. Hoje abro mais uma vez um pouco do meu Eu, para poder chegar a alguém que esteja na dúvida. Na dúvida de saber o que se passa porque só lhe apetece chorar, na dúvida de saber porque só lhe apetece estar em casa, na dúvida de não saber lidar com muita gente no shopping, na dúvida de encontrar uma resposta para aquelas confusões do dia a dia. Procurar ajuda é essencial, porque nada disto deve pesar nas nossas cabeças. E quando acharmos que tudo podemos...Até acredito que sim...mas um dia também caímos redondos ao chão sem saber o porquê e aí minha gente, pode ser tarde demais.

Porque como diz o meu querido Raminhos, "Somos todos Estranhos, até percebermos que isso é Normal".

Com estima, 

Liliana 

Um brinde ao Avô

Liliana Silva, 12.09.21

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Somos sem dúvida uns abençoados e afortunados por te ter.

Somos prova viva de que vale a pena lutar e que o amor verdadeiro tudo pode. Se não vejamos... 2004 foi-te dada uma segunda chance na vida! Nesse mesmo ano e nos seguintes estiveste na corda bamba várias vezes, quiseste desistir outras tantas e chegaste ao fundo do poço sem saber que conseguias regressar.

Com tempo, dedicação e amor conseguiste dar a volta e continuar.

Em 2012 a vida tira-te o Amor e replanta uma semente que não fazias ideia que era da mesma espécie... O tal amor verdadeiro. É o que é que fizeste?! Agarraste em tudo e voltaste a mostrar à vida o que querias dela.

Sei que amas este miúdo com um amor especial. Sei que sabes o significado dele. Sei que te apoias nele para continuar, por muito duro que as vezes seja o caminho.

E eu só espero que o meu filho tenha metade da noção do que tu és para ele e para mim. Só espero que um dia, ele saiba que és um lutador porque especial ele já sabe que és.

Obrigada por tomares conta de nós e obrigada neste ano particularmente difícil por teres estado aqui, tu que em vez de me dares o ombro para chorar, obrigaste-me a levantar e a caminhar. Sacudiste a minha monotonia e fizeste-me despertar.

És um herói. O nosso herói sem capa 

O PAI

Liliana Silva, 08.09.21

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Sabemos bem o quão penoso é para uma mulher todo o processo de gerar e dar uma vida. Quando as coisas correm bem, quando as coisas correm mal, somos olhadas e criticadas por fazer. Se fazemos, está mal, se dizemos, poderia ser melhor, se não ligamos somos umas mães de merda, se fazemos frente, devíamos ficar caladas. Assim é e assim será eternamente...criticadas por tudo e em tudo.

E quando temos de arcar com tudo às costas, existe um PAI! Existe alguém que fazendo parte do mesmo lado, não tem nem metade do peso que nos colocam a nós mulheres. Mas eles existem, eles, na maioria das vezes, estão ao nosso lado, e é com eles que tudo faz sentido, neste caminho da maternidade e paternidade, nestes caminhos sinuosos que é ter um filho.

E se quando tudo corre bem, a alegria é repartida, quando tudo corre mal as coisas são vividas de formas diferentes. Não quero com isto dizer que a dor é menor. Nunca! Jamais! O pai deste lado também perdeu um filho! O pai deste lado também viu esvair-se a possibilidade de ter um craque da bola, perdeu a oportunidade de o ensinar a andar de bicicleta, deixou de poder ir com ele ao parque...e sim, há sonhos que ficam perdidos no meio da perda de um filho.

Coube-lhe a dificil tarefa de me manter à tona. Coube-lhe a dificil tarefa de me agarrar a mão num parto de colo vazio. Coube-lhe a dificil tarefa de me enxugar as lágrimas e amparar os gritos de desespero. Coube-lhe a triste imagem de nos despedirmos do nosso pequenino. Coube-lhe a dificil tarefa de me trazer para casa e de reerguer um lar silencioso.

Têm sido dias de construção mútua! Ele encerrou um capítulo que eu ainda não encerrei! Mas ele ainda perde o olhar quando vê um bebé, ele ainda sustem a respiração quando falamos do assunto, ele ainda vai buscar o "tudo o que podia ter sido". Ele que se preparou mais rapidamente para este bebe do que eu mesma, traz no seu coração, bem arrumado, o seu Tomás...sei que sim!

Têm sido dias em que ele dá mais que eu! Têm sido dias em que ele carrega tudo ao colo e "bola para a frente, que não te deixo para trás"! Têm sido dias em que reconhecemos que não, isto não veio fortalecer nada, isto veio mostrar-nos que somos feitos da mesma fibra. Muita coisa nos tem abalado, mas ainda nada nos quebrou. 

E continuamos assim...a viver...a caminhar... de mãos dadas, a tentar perceber a vida!

Obrigada por não me teres deixado desistir.

Com amor, 

Liliana