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Ele, o microfone e a mamã

"Radicalismos" de uma mãe galinha, rabiscos e cantorias do pequeno príncipe T e vida, muita vida para vos mostrar. No nosso T3 vivemos e sorrimos muito.

Ele, o microfone e a mamã

Semana da Sensibilização para a perda gestacional e morte Neonatal

Liliana Silva, 15.10.21

 

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15 de Outubro - dia de relembrar os pequeninos que não ficaram

Sei que será exagerado para todos que vos faça esta pergunta, mas creio que a sensibilização de certos temas só pode ser feita se nos confrontarem com algo que provoque choque!

Imaginem que perdem o vosso bébé...seja por gravidez que não se desenvolveu, seja por aborto espontaneo sem causa, seja por IVG "forçadas" ou interrupções médicas aconselhadas por problemas no feto... imaginem que dentro de vocês cresce uma vida e que por muitas e variadas razões ficam sem essa vida!

Bem sei que é exagerado para todos! Há um ano atrás se me confrontassem com isto nem sequer ia ler um artigo assim, com medo que não soubesse o que dizer, com pavor de dizer asneira, com receio de magoar...

Bem sei que é exagerado para todos! Mas a verdade é que só passando por isto consigo hoje entender que há temas que provocam muita agitação interior porque incomoda, porque choca, porque é aborrecido.

Hoje quero-vos falar do Tomás. O Tomás que não foi planeado mas que passou a ser muito amado desde o dia dos dois risquinhos daquele teste feito a medo. E falo-vos dele porque nestes meses, apenas uma única pessoa me perguntou se eu queria falar dele...apenas uma!! Bem sei que por medo. Muito medo de remexer num assunto que causa tanta dor e porque ao contrário de mim, há muitos pais que preferem não falar! Mas eu falo-vos do Tomás! E falo porque metade do meu coração está com ele e porque o conheci e vi crescer até ao seu 5ºmês. O malandro deu-me desejo de pessego em calda, o meu primeiro desejo. Não me deu muitos vómitos como o mano Tiago, e trouxe com ele a calmia. Com o Tomás a minha ansiedade amainou, dizem que os fetos têm tendência a acalmar a mãe na gestação, e assim foi.
O Tomás era um autêntico mexerico, parecia que andava sempre a dançar aqui dentro, que estava sempre feliz, e quando lhe punha os auriculares na barriga, uiiiii isso é que era mexer e interagir.

Descobri com a perda dele que afinal posso ser boa mãe para dois ou três ou os que viessem, porque o amor não se divide, mas sim multiplica-se. Aprendi com a perda dele que sou mais forte do que digo e o medo que me tolda a visão é só isso mesmo, uma maneira de me controlar que eu não quero. 

O Tomás merece ser falado e lembrado. O Tomás é e será sempre o meu segundo filho. O Tomás deixou o meu colo e a nossa vida um pouco mais vazia. Hoje falo-vos dele porque infelizmente quis o destino que não pudesse carregá-lo ao colo e vê - lo crescer. Hoje, neste dia que marca a perda gestacional e morte Neonatal quero apenas deixar-vos um conselho... Antes de qualquer frase feita ou rótulo, lembrem-se apenas de convidar essas pessoas para beber um café e esperar que elas vos digam o que querem falar, dêem espaço e margem de manobra... Porque coisas como: "logo arranjas outro", "logo começas os treinos outra vez", "foi melhor assim para não teres problemas a vida toda" ou " era só um feto, nem o sentias"... Ainda que não sejam por mal... Custa muitoooo a ouvir.

Sejam felizes 💋

A mãe Liliana