Carta aberta à professora Cristina (que ainda não conheço...)
Querida Professora Cristina,
Ouvi o seu nome há poucos dias e pensei que deveria escrever-lhe estas palavras, mesmo que ainda não nos conheçamos. Senti-me tentada a colocar neste texto o que me vai na alma já há alguns meses e mais agora nestes últimos dias.
Sou mãe de primeira viagem, e quando assim é somos mães de primeira viagem em tudo. Ora na colocação das fraldas, ora na toma do banho do bebe, ora na primeira ida às vacinas. Mais tarde vem o aperto no coração por ter de deixar o rebento com pessoas desconhecidas (no caso o infantário) e eis se não quando chega o primeiro ciclo. Pois assim é, sou mãe de primeira viagem do pequeno principe T que vai ingressar esta ano na primeira aventura séria da sua vida.
Deixe-me dizer-lhe que apesar de tudo o que sinto cá dentro, não reflecti isso no mini da casa e como tal ele vai de mente aberta e como sempre com aquele heroísmo que gabo às crianças desta idade, sem medos ou receios do que por aí vem. Tem noção que alguma coisa será diferente da pré-primária mas nem fala do assunto, nem me parece ainda ciente que isto da escola primária já o torna num mini adulto sem querer.
Já eu trago as emoções ao rubro e não tento disfarçar em nada esta situação (pelo menos aos demais que comigo socializam). Por isso tive necessidade de escrever-lhe estas palavras.
Vou entregar-lhe o meu bem mais precioso (creio que já tenha ouvido isto inúmeras vezes) mas é assim que uma mãe vê a sua cria. Não sei se é mãe, não sei onde mora, não sei os seus hábitos...há coisas que não interessam para esta nossa relação que agora se inicia. Interessa-me que saiba que vai acolher na sua sala muitos meninos e todos eles terão os seus feitios bem vincados, a inquietude no corpo, a timidez na fala (ou então não...) e a esperteza das primeiras tentativas. Entre eles estará o princípe T. Um menino de luz e um mini musical. O Tiago não se entusiasma com muita coisa mas tem uma grande paixão...a música. Ele fala a cantar, exprime-se a abanar o pé, pinta um desenho a fazer ritmos com o lápis, abana a cabeça quando lhe contamos uma história, enfim ele gira à volta da música e será por aí que o conseguirá cativar.
Mas mais para além disto, na sala e com ele ficará o meu coração de mãe de primeira viagem. Deste lado está o medo, a ansiedade, a inquietude na mente e no coração. As asas dele estão a ficar maiores. Vou deixá-lo voar um pouco mais longe, ainda por perto eu sei, mas já sem o controlo da educadora e auxiliares que o acompanharam até aqui. Sabe, até aqui fui brindada com pessoas de um coração gigante que sempre acalentaram esta minha missão de mãe. Tivemos a sorte (ele e eu) de ter ao nosso lado profissionais de gabarito e sobretudo seres humanos de excelência que nunca me deixaram ficar na dúvida em nada, e a partir de agora vou deixar de receber fotos a meio do dia de brincadeiras que ele tem, vou deixar de poder enviar mensagem sempre que o deixar mais triste ou preocupado, não será tão fácil ligar apenas porque sim...uma série de coisas que vão fazer falta à minha segurança interior.
Por isso professora Cristina estou a confiar em si para, na medida das suas possibilidades e sabendo das diferenças abismais que tem uma pré de uma primária, olhar pelo meu menino, tal como faria por uma pessoa que gostasse muito. Sei que vão ganhar confiança mútua, que serão amigos dentro da amizade possível entre uma professora e um aluno e quero sobretudo acreditar que apesar do distanciamento que deve haver nestas relações, nunca se distancie o suficiente para saber sempre um pouco mais dele. Peço-lhe atenção quando o achar mais quieto porque pode estar doente, peço-lhe atenção quando o achar mais triste porque pode ter acontecido algo extra-escola, peço-lhe atenção quando o vir meio perdido de pensamentos porque pode não estar a perceber nada do que lhe está a transmitir.
Ficar-lhe-ei eternamente grata se conseguir mantê-lo colado também ao seu coração, como ele tem facilidade em se colar a quem o trata bem. Sabe que isto das emoções são meio caminho andado para que a nossa mente consiga reter o essencial. Espero que possam sorrir muito e gargalhar ainda mais!
Teremos oportunidade de conversar em privado. Terá oportunidade de perceber que não quero ser diferente de nenhum pai e mãe. Saberá que não quero tratamentos especiais. E não tenho nos meus planos que o meu filho seja o "queridinho" da professora". Peço-lhe apenas que para além da relação professora-aluno, possam construir uma história de vivências bonitas que ele e eu possamos recordar no futuro, porque é nas suas mãos que ele ganhará o gosto pela escrita, pela leitura ou até pelas contas. Mas será sobretudo pelas suas mãos que ele vai ganhar asas maiores. E serão essas asas, e a estrutura que elas conseguirem ganhar, que ele vai caminhar por este mundo fora. Será só mais um para si, mas é O meu para mim!
Querida professora Cristina agradeço-lhe muito o tempo que dispensou ao ler estas minhas palavras (se é que elas lhe chegarão...) e desejo para si, para todos os meninos do primeiro ano e para o meu pequeno princípe T um excelente começo, um aventurado desenrolar e um final feliz nesta nova etapa que agora se avizinha.
Assinado: A mãe galinha com um pinto de asas a crescer