Porque a MENTE também precisa de médico
Tenho um percurso de vida de muitas e longas curvas. Curvas apertadas pelo tempo e pela intensidade com que fui apanhada.
Pauto a minha existência por dar àqueles que amo a verdadeira razão desta vida...o amor verdadeiro. Tenho pelos meus um amor desmedido que me faz ter medo de os perder e sobretudo medo que sofram. Aprendi que não tenho grande poder sobre nada, mas que tenho uma arma bem resistente a tudo o que no fim poderá acontecer...dar tudo de mim para os amar e proporcionar dias inesqueciveis...assim quando partimos sabemos que não ficou nada por fazer e muito menos por dizer. E isso conforta-nos, acreditem que se no fim, tivermos de baixar os braços e precisarmos de resignação, o que fica é a satisfação de termos aproveitado à brava. Fica a saudade! Mas a saudade de momentos bons, rimos com as lembranças e se houver lágrimas será porque o que nos falta foi muito bom num passado bem aproveitado.
Mas tudo isto que vos falo, traz, por vezes consequeências que nos esgotam sem nos apercebermos. A luta diária, o achar que podemos tudo, o pensar que chegamos a todos e que fica sempre tudo bem, deixa marcas para uma vida. As minhas marcas chegaram à bem pouco tempo. A vida mostrou-me por A+B que estava completamente descarregada. Naquele dia fiz um reset ao meu corpo e à minha mente...e agradeço hoje, ter sido apenas um reset e não uma avaria completa, o que significa que a vida me deu uma nova oportunidade.
Aquilo que achava ser um AVC foi descartado, aquilo que se julgava depois ser um AIT foi igualmente descartado e o que restou no final?? Os tão falados ataques de pânico e ansiedade! Os tão falados, aqueles que eu sempre confortei nos outros estava agora do meu lado e eu não soube lidar com eles. Não soube e não sei ainda...
Sei que a seu tempo as coisas podem ter controle, mas também soube que não o iria conseguir sem ajuda especializada. Sou acompanhada por um psiquiatra desde essa altura e agora mais recentemente por uma psicóloga, devido à perda do meu feijão pequenino, devido à perda do meu Tomás. Tenho ajuda médica qualificada para conseguir continuar a caminhar. Tomo medicação diária para ajudar o meu cérebro e o meu corpo a encontrar o equilibrio que preciso para ser feliz. Faço terapia para conseguir chegar ao meu EU interior e transmitir-lhe a paz que necessita para se manter fiel a mim.
Se tenho vergonha de falar ou contar isto? NUNCA!! Cresci num ambiente onde se falava de psiquiatras como se fala num neurologista, num reumatologista ou numa terapeuta. Sou muito bem resolvida e fui eu que procurei ajuda quando tudo o resto, e falo fisicamente, foi descartado. Sou eu que marco as minhas consultas, peço a minha medicação e faço questão de seguir o tratamento para me sentir bem.
Não...não sou maluca!! Tenho um problema...igual a um braço partido ou umas cataratas nos olhos. Tenho um problema que precisa de acompanhamento e cá ando eu a lutar para ficar melhor.
Julgamos sempre que somos os maiores, os melhores, que nada nos acontece, que conseguimos ultrapassar, que não podemos chorar, que não devemos explodir, que a sociedade vai-nos julgar por sairmos do protótipo de "pessoa normal"!!
Meus amigos ninguém é NORMAL!!! Atrever-me-ia até a dizer que somos todos portadores de deficiências. Uns mais simples do que outros, claro está, mas todos estamos no mesmo barco. Eu que achava conseguir ultrapassar tudo, verguei.
E hoje, hoje que voltam os dias cinzentos, os dias de chuva, os dias em que inadvertidamente deixamos de trazer o riso nos lábios porque corremos para fugir do mau tempo lá fora, hoje deixo-vos com a minha experiência. Hoje abro mais uma vez um pouco do meu Eu, para poder chegar a alguém que esteja na dúvida. Na dúvida de saber o que se passa porque só lhe apetece chorar, na dúvida de saber porque só lhe apetece estar em casa, na dúvida de não saber lidar com muita gente no shopping, na dúvida de encontrar uma resposta para aquelas confusões do dia a dia. Procurar ajuda é essencial, porque nada disto deve pesar nas nossas cabeças. E quando acharmos que tudo podemos...Até acredito que sim...mas um dia também caímos redondos ao chão sem saber o porquê e aí minha gente, pode ser tarde demais.
Porque como diz o meu querido Raminhos, "Somos todos Estranhos, até percebermos que isso é Normal".
Com estima,
Liliana