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Ele, o microfone e a mamã

"Radicalismos" de uma mãe galinha, rabiscos e cantorias do pequeno príncipe T e vida, muita vida para vos mostrar. No nosso T3 vivemos e sorrimos muito.

Ele, o microfone e a mamã

Sanidade Mental em tempo de Quarentena

Liliana Silva, 27.03.20

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No domingo passado, o marido colorido disse-me "amanhã faz aquilo que costumas fazer todos os dias...tira o pijama, põe uma maquilhagem, escova o cabelo..."

Aquilo não me caiu lá muito bem e claro que tive de lhe responder que não era ele que ia ficar fechado com o puto e a ouvir as notícias de minuto a minuto sobre o "diz que disse" de números e notícias, falsas ou verdadeiras, que nos entram ouvidos dentro e fazem a nossa cabeça e o nosso coração andar como se estivessem numa montanha russa...mas a coisa acabou por ficar por ali...

A verdade é que estou há praticamente 15 dias enfiada em casa com o miúdo e tem-me custado a tirar o pijama. Simples assim!! O "desleixo emocional", se assim o poderei chamar é lixado e tenho que dar o braço a torcer quando recordo as palavras do sr. Engenheiro cá da casa.

Isto é apenas o reflexo da nossa sanidade mental em tempos de crise, como aquele que hoje vivemos!

Estabeleci uma tabela (semana passada, que esta semana já foi a professora a estabelecer as rotinas), para manter o miúdo ocupado, para lhe manter minimamente a rotina e para que ele não se farte e não me farte a mim, mas a verdade é que hoje olhei-me ao espelho e o que salta à vista são as minhas olheiras, e pensei mais uma vez para os meus botões "aquele gajo tinha razão, ele já sabia que tinha de me alertar, porque eu lido mal com certas situações". Remeti esse pensamento, como disse para mim mesma, mas também serviu de alerta para os próximos dias.

 

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Vamos passar muito tempo agarrados aos telemóveis, a ler e a ouvir muita coisa pesada, falsa, impotente e avassaladora. Digam o que disserem, ninguém estava preparado para este caos, para estas restrições, para este isolamento. Vamos ter de aturar os putos, ocupá-los, brincar quando não nos apetece, limpar as lágrimas de muitas birras, pensar em ementas de almoço e jantar e fazer contas ao número mínimo de vezes que iremos ao supermercado. 24/24 horas num rodopio sem um objectivo!! E quando falo em objectivo, é um objectivo real mas próximo!! A nossa condição neste momento é a de saber esperar e estou em crer que a espera vai ser longa e penosa.

Por isso, acredito que nestas próximas semanas, quem não souber cuidar da mente, vai arranjar problemas ao corpo e eu não quero ser uma dessas pessoas!!!

Acredito muito que juntos e isolados podemos fazer a diferença para o tempo que poderemos encurtar caso todos tenham noção do real perigo deste vírus! Acredito que só estas medidas poderão por caminho certo a esta pandemia! Acredito que temos de por mais de lado as notícias e não viver em prol de números e baixas!!

Assim sendo, e pelo que já me consegui aperceber nestes poucos (mas eternos e longos dias) é que convém dar alento à nossa alma. Eu vou refugiar-me nas tarefas com o mini, mas muito mais há para fazer numa casa.

Aposto que andamos todos há anos a dizer que queremos por em dia aquela série que tanto gostamos, de ler aquele livro com um título sugestivo, arrumar aquelas gavetas que nos servem de depósito solitário para tudo o que nãoo tem arrumo próprio, escolher roupas para doar ou mesmo deitar no lixo (minimalizar), fazer uma limpeza geral ao sotão, pintar uma parede que há muito está por pintar, colocar em dia as fotos do álbum de família, quem sabe escrever a alguém com quem já não estamos há muito tempo ou até por em dia a conversa, olhos nos olhos com a nossa cara metade!

Há muita actividade que pode ser feita entre 4 paredes e que podem evitar que este isolamento social se torne acima de tudo um isolamento pessoal e interno. As nossas maiores barreiras são as paredes de chumbo que colocamos dentro de nós mesmos!

Não deixem que este vírus paute o vosso dia a dia, sem capacidade de erguer! Já dizia o marido colorido...e eu acrescento...tomemos um bom banho, façamos uma boa alimentação, deixemos as notícias para as horas em que antes as víamos, e tenhamos a capacidade de descobrir as nossas paredes e o que de melhor se encontra dentro delas.