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Ele, o microfone e a mamã

"Radicalismos" de uma mãe galinha, rabiscos e cantorias do pequeno príncipe T e vida, muita vida para vos mostrar. No nosso T3 vivemos e sorrimos muito.

Ele, o microfone e a mamã

Super Nanny - A "Encantadora" de Crianças

Liliana Silva, 15.01.18

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Como se o tema da educação não fosse, por si só, já bastante complexo e polémico, lembrou-se a SIC de implementar em horário nobre uma programa que "avalia" esta temática de forma directa, real e muito incisiva, entrando pela casa das pessoas que assim o desejam e tentando por em prática um sem número de técnicas, tácticas e 

Creio que a comunidade no geral andava em pulgas para ver este novo formato de "reality show", na minha modesta opinião, e eu não fugi ao grupo. Os anúncios despertaram em mim a curiosidade e aguçaram a vontade de assistir a este primeiro episódio.

Dei por mim a pegar num lápis e numa folha e a tirar apontamentos (não que quisesse colocar alguma ideia em prática) mas para poder "avaliar" tudo com o maior discernimento possível. Estava o programa nos cinco minutos iniciais e já o "engenheiro" da casa me dizia "isto quase me parece o Cesar Millan, aquele o encantador de cães". Na minha perplexidade com aquela afirmação sem nexo de conhecimento abstraí-me do contúdo daquela frase e continuei a assistir. Diga-se que ele colocou os auriculares e foi à vidinha virtual dele, dado que se incomodou com o espéctaculo inicial. 

E agora me confesso: só assiti até ao final porque queria mesmo escrever sobre isto, porque a dada altura dei por mim a entrar num conflito interior de tal forma elevado, que tremia sempre que ouvia aquela criança chorar. Ora pois bem, depois de já muito se ter escrito em menos de 24h sobre o tema, apraz-me apenas 3 situações:

1. O que estamos a analisar é única e exclusivamente um programa de TV, e como tal "chocou-me" a exposição que é feita da família e sobretudo da criança. Grande e crucial ponto de toda esta polémica. É do bom senso comum que se há problemas, e todas as famílias os têm, o melhor sítio para os resolver é no centro do problema, quanto muito com recurso a profissionais capazes e adequados a este tipo de situações, e aqui falamos de psicólogos, terapeutas, pessoas que acompanham os casos mais do que dois dias (foi o tempo que percebi que a senhora em causa esteve na casa desta família) e que sabem gerir tanto as emoções de pais, mães e educadores no geral. São as pessoas mais capacitadas para ajudar e aquelas que estando de fora melhor conseguem resultados práticos e pretendidos por todos.

2. Aquilo que foi posto em prática pela senhora em questão e denominada de Super Nanny, tem em traços aprofundados a mesma intenção que a mãe, quando uma faz a referida "chantagem" e a outra a referida "recompensa". Encher aquele mealheiro por boas acções e daí advir uma "prenda" parece-me uma "chantagem" encapuzada. A criança, com o conhecimento de regras, deverá, ao longo do tempo perceber as suas rotinas e não fazê-las com um certo interesse camuflado. Valeu pelo menos a questão das palmadas que, pelo que percebi não é adepta e não resolve os problemas com o sofrimento físico e imediato da criança. Gostei particularmente da tabela com as tarefas de mãe e filha, uma maneira de interacção entre as duas e que lhes permite até, numa situação mais aprofundada, trocar ideias sobre como resolver as tarefas melhor e mais rápido para que possam aproveitar o tempo restante a fazer as coisas que cada um gosta mais de fazer (isto tudo tendo em conta a idade da pequena Margarida e das limitações físicas que daí advém).

3. Não gostei de todo do "banco da pausa". Eu que já coloquei o meu filho a "pensar" como mais vulgarmente agora se diz, percebi que não é afastado dos restantes membros da casa, num canto ou mesmo virado para a parede que a criança apreende o que quer que seja. Se queremos que eles acalmem e se restabeleçam, sentamo-nos ao lado deles e ficamos ali até que o gelo quebre e eles falem sobre o assunto. Nunca em momento algum, colocar uma criança em histeria total, confinada a um banco ou a um espaço delimitado vai fazer com que se acalme. Basta para isso pensarem em vocês mesmos, adultos quando têm um problema para resolver, o que mais apetece é gesticular, gritar ou aos mais comedidos andar de um lado para o outro para descarregar tenções.

Agora há outros pontos que é necessário reflectir, o sofrimento desta família, o facto de haver "contrapartidas" em expor assim estes casos, e quando falo em contrapartidas falo mesmo em pagar a estas famílias para que exponham estas situações nestes moldes, e um assunto bem mais inquietante, que por acaso uma leitora ontem me fez pensar, e que hoje já veio a público é a intervenção da CPCJ em relação a programas deste teor e com esta capacidade de gerar nas crianças e famílias, "danos" imediatos na sociedade em que estão inseridos.

Em suma e numa frase, a única coisa que me apraz dizer sobre este formato e sobre o programa em si é que continuamos a pensar muito com a cabeça e a colocar muito pouco coração na relação com os outros, mesmo que os outros sejam seres indefesos e que necessitam que os ajudemos a construir a sua identidade e formação na base da serenidade e cumplicidade em que este mundo já não sabe viver.

Esta é a minha humilde opinião, assente naquilo que considero ser o meu crescimento enquanto mãe. Sei que haverá outras tantas mães a pensar de forma diferente, mas é aqui que reside a nossa força e diferença: na capacidade procurar soluções válidas, concretas e com o menor sentimento de dor para as nossas crias. Não critico jamais o apelo desta mãe, e muito menos porque "só sabe do convento quem lá vive dentro", mas tenho a noção que deverá existir outra forma de pedir ajuda e de se fazer ouvir. Não queremos adultos deprimidos assim como não queremos crianças mal educadas, basta saber que isto das emoções, dos 8 aos 80 são complexas e necessitam em alguns casos de ajuda extra, sem holofotes ou luzes da ribalta.

 

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